A Natura respondeu a cinco comentários que revelam a falta de compreensão sobre o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro
Por: Natura
A cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil. Mulheres negras são as que mais sofrem violência doméstica. Quatro em cada dez jovens negros não terminam o ensino médio. Se nada for feito, apenas no ano 2089 negros terão uma renda média igual a dos brancos. Ainda assim, diante de um cenário como esse, há quem duvide da importância do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.
“Essa data só aumenta o racismo”, “Quero meu dia de branca!”, “Quando será o dia da consciência humana?”. Esses e outros comentários são comuns nas redes sociais, inclusive nas nossas.
Reunimos uma pequena amostra, retirada dos 1.400 comentários feitos em nossa postagem pelo Dia da Consciência Negra em 2018, para provar como a data ainda é mal interpretada. Para responder a essas falas, convidamos a professora doutora Luciana Xavier da Universidade Federal do ABC e pesquisadora de estudos étnicos-raciais.
Heróis do movimento negro
A data foi incluída oficialmente no calendário escolar em 2003, quando a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira virou lei. Foi nesse dia, no ano de 1695, que Zumbi, último líder do Quilombo dos Palmares, foi assassinado.
Zumbi pode ser considerado um dos grandes líderes populares da história do Brasil, sendo alçado ao status de símbolo de luta e de resistência contra a escravidão. Ele trouxe para a sociedade um novo olhar diante da nossa história, uma nova atitude e esperança de mudança, oferecendo uma perspectiva negra a respeito do nosso país,” afirma Luciana.
Outra figura que merece destaque é a esposa de Zumbi, Dandara dos Palmares, que lutou pela libertação total das negras e dos negros no Brasil. Quando falamos de Consciência Negra, muitos outros heróis também merecem ser lembrados: Nelson Mandela, Martin Luther King, Rosa Parks, Alice Walker, Angela Davis, entre outros. Personalidades que representam a luta do povo negro no mundo.
A importância do Dia da Consciência Negra
A história da escravidão africana se baseou tanto na promoção da dominação e no extermínio de indivíduos negros quanto na sua desumanização enquanto sujeitos. Negros não eram considerados humanos e por isso podiam ser escravizados. Mesmo após a abolição, ficaram à margem da sociedade.
Falar em consciência negra é um esforço para tentar igualar e alcançar um status também de humanidade. Pensar em consciência negra é ainda uma forma de incentivar a informação e o combate ao racismo, estimulando a valorização dessa identidade negra anteriormente negada”, ressalta a professora.
Não é feriado nacional
A professora Luciana nos conta que Steve Biko, ativista negro sul-africano que lutou contra o sistema segregacionista do apartheid, foi um dos principais responsáveis por propagar pelo mundo o conceito de consciência negra. A ideia era incentivar que a população negra se unisse na luta contra o racismo e valorizasse a própria identidade. Esse é o propósito da data, mas a celebração não é considerada feriado nacional. Cada estado tem a própria legislação.
Por que não existe o Dia da Consciência Branca?
“Brancos não são barrados ou proibidos de entrar nos lugares, brancos não sofrem violência, inclusive por parte de instituições, apenas por serem brancos, brancos não perdem oportunidades de emprego por conta da cor da pele. Eles não são segregados nem julgados pelo seu fenótipo, por exemplo”, explica Luciana.
Contra o racismo!
Algumas pessoas enxergam o Dia da Consciência Negra como racista, demonstrando a falta de compreensão do propósito da data. Para melhor entendimento, a pesquisadora explica o conceito de racismo.
Racismo é um sistema de poder, uma mentalidade, uma visão de mundo que estrutura a sociedade e que é responsável por manter determinados grupos em estado de subalternidade, enquanto outros se encontram em uma situação de superioridade. Brancos não têm seus direitos negados apenas por serem brancos. Ou seja: não existe racismo reverso.”
Os comentários feitos em redes sociais têm o poder de atingir milhares de pessoas instantaneamente, por isso, no Dia da Consciência Negra, queremos mostrar que a empatia é fundamental. E que a busca pela equidade étnico-racial é uma responsabilidade de todos, indivíduos e empresas.